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sábado, 31 de maio de 2008

IDEIAS SOLTAS - Dia da Criança

DIA DA CRIANÇA


Dia da Criança não é apenas sinónimo de festa, de divertimento e de presentes.

Infelizmente, não é um dia de igualdades. Apesar de umas crianças receberem roupa, outras não têm o que vestir, embora algumas possam ir jantar fora com os seus pais, outras não têm nada para comer. Por isso, faz todo o sentido existir um dia dedicado às crianças, sobretudo para consciencializar as pessoas de que existem (muitas) crianças que se encontram em situações demasiado más e precárias.

Neste dia, pensa-se nas centenas de crianças que têm doenças e não têm meio de combatê-las, naquelas que sofrem de maus-tratos, que são discriminadas, que morrem à fome, …

É um dia que não passa indiferente a ninguém. Porque, a cada minuto que passa, morrem crianças. E, existem centenas que, neste dia, não recebem um beijo, um abraço, um reconforto de ninguém (e tantas outras que recebem tudo e ainda querem mais!).

Quantas crianças não podem aprender? E quantas crianças ficavam felizes por não ir à escola? Tantas desigualdades e injustiças…!

Quem não gosta de ver um sorriso de uma criança? Quem não gosta de a ver brincar, de a ver crescer, de a ver evoluir enquanto pessoa?

Se existem direitos das crianças, porque não se cumprem?

Foi sempre assim em todos os períodos da História. Para passar da teoria à prática, do “dever-ser” para o “já-está”, passaram-se anos, anos e anos… Foi assim com a abolição da escravatura, por exemplo…

E tudo isto porque o ser humano é mesmo assim - lento. Não consegue compreender logo quando erra e, mesmo que saiba que está a errar, tenta sempre não ser descoberto. Defende soluções, mas não as encontra. Sabe as causas dos problemas, mas nunca as tenta evitar. Se for preciso, até comete os mesmos erros feitos por um país há muitos anos atrás…

Enfim, há que tentar dar um sorriso às crianças, um sinal de esperança, fazer com que elas possam ser aquilo que nós não conseguimos ser. Fazê-las crescer com tudo aquilo a quem têm direito. Um beijo para todas elas!

Mariana Ventura Norte.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

IDEIAS SOLTAS - Lícito versus ilícito


Em situações extremas no que diz respeito a doenças incuráveis ou doentes em fase terminal, pode ser difícil para um médico interiorizar que pouco pode mais fazer para inverter a terrível situação (por vezes, os medicamentos e tratamentos não são suficientes e não impedem a vinda de um grande pesadelo para as famílias).

Como tal, um médico tem que conseguir separar o que é lícito do que não é, aquilo que ele pode fazer para ajudar, daquilo que nada pode fazer, pois está fora das suas funções e habilitações.

Todavia, pode acontecer que seja difícil adoptar uma decisão ética e profissionalmente correcta, assim como acontece em vários aspectos e situações do nosso quotidiano: o juiz que tem de decidir se alguém é culpado ou inocente quando as provas não são muito plausíveis ou concretas; o professor que tem de optar entre aprovar ou reprovar um aluno, quando tem dúvidas ou em dar um 20 ou um 19 como nota final do período, entre muitos outros casos.

“Nestes casos, uma regra moral evidente é prescindir dos possíveis motivos egoístas da própria decisão e aconselhar-se junto de outros especialistas para decidir prudentemente. Com estes requisitos, um médico – como um juiz ou um professor – pode enganar-se, mas não cometerá um acto ilícito”- Fernando Monge - ,isto é, quando se trata de uma doença incurável, o médico não pode nem deve fazer nada que o transcenda, que não esteja ao seu alcance. Deve procurar ajuda junto de outro profissional, mas tendo sempre em linha de conta que nada do que fizer será ilícito, pois apenas se limitou a fazer o seu trabalho, a dar o seu melhor. No entanto, nem sempre é fácil, tentar curar um doente sem envolver alguns sentimentos e pensamentos pessoais. E, muitas vezes, um médico pode errar. Qualquer pessoa erra, mesmo que seja um excelente profissional. Há que interiorizar que, não deixará de ser um excelente profissional por um erro que cometeu (ou por nada mais conseguir fazer para afastar o inevitável - a morte de uma pessoa com uma doença incurável). Como tal, é certo que se enganou, que errou, que fez algo mal, mas, não pode ser condenado por si nem pela situação que o envolveu. Não cometeu nenhum acto ilícito.

Ainda falando da citação de Fernando Monge, também o professor e o juiz se podem enganar, errar ou fazer algo mal. Contudo, não deixam de ser bons profissionais, de terem bom carácter, de cumprirem a sua função. Porque, tal como o médico que nada mais pode fazer para evitar uma morte certa, não cometeram actos ilícitos.

Mariana Ventura Norte

sábado, 17 de maio de 2008

IDEIAS SOLTAS - O maior desafio



Repentina, rápida. Assim surge uma notícia de dor, angústia, sofrimento. Algo de muito mau está a chegar, trazendo tristeza, lágrimas, aflição. Ouvem-se gritos. Teme-se o pior. Ainda é de dia, mas há escuridão. Ao longe, vê-se um túnel. Desfocado, distante, quase inatingível.
Procuramos alcançá-lo, correr contra o tempo. Quase foge. Parece indefinido até!

Ah como custa ver alguém a partir! Sentimo-nos fracos, sem força, imperfeitos. Até parece que somos inúteis, porque encaramos a realidade, o futuro e não conseguimos mudar nada, evitar o pior. Alguns chamam a “lei da vida”. Nascemos, trabalhamos, vivemos e depois… Depois? Depois vem o fim, a última etapa (ou a primeira da outra vida, para quem acredita).
Estamos juntos nisto, a partilhar a “partida” que a vida te está a pregar. Coloca-te à prova, mede a tua resistência, a tua agilidade de superar tudo isto. “Não vou conseguir” – pensas tu. Mas eu estou aqui, amparo-te, não te deixo cair. Ultrapassarás o que te atormenta e te inquieta, o que te deixa infeliz. Por mais que te custe, a vida é mesmo assim: ingrata. Nunca se está preparado para o fim.

No entanto, prevalecem as memórias, as recordações. Boas, por certo!

E eu e todos os outros estaremos aqui para dar luz à escuridão, para dar alegria à tristeza, ajuda a quem sofre. Porque tu… irás ultrapassar! (eu acredito!)
Escrito para ti amigo. Para vocês leitores, como encarar a partida de alguém?

Mariana Ventura Norte

sábado, 10 de maio de 2008

IDEIAS SOLTAS - Livre-arbítrio



Muitas pessoas acreditam que o livre-arbítrio é uma preciosidade comum a qualquer ser humano. Pensam que todos podem decidir fazer isto ou fazer aquilo, ir por este ou outro caminho. No fundo, decidem, têm escolha.
Mas até que ponto isto é verdade? Até que ponto uma pessoa pode escolher?

Como sabem, há determinadas situações que não podemos controlar; estão fora do nosso alcance, do nosso poder de decisão. Basta pensarmos nas mulheres islâmicas que vivem prisioneiras e que, muitas vezes, são maltratadas.
Se têm escolha? Até podem ter, isto é, elas podem sempre fugir, tentar a sua sorte, dar outro rumo às suas vidas. No entanto, arriscam-se sempre e, há que ponderar se o valor do risco poderá compensar.
A propósito deste tema, numa aula, foi dado o exemplo de uma pessoa pobre querer ascender socialmente e, sendo assim, pertencer à classe média. Ela pode decidir fazê-lo (tem liberdade para isso), mas conseguirá? E se não conseguir? Até que ponto o livre-arbítrio valeu a pena?
Por vezes, queremos muito uma coisa e até podemos escolher, mas, se não a alcançamos, sentimo-nos frustrados, desapontados. Isso não poderá acontecer à pessoa pobre? Lutar, lutar, lutar e não conseguir? E depois há sempre que ter em conta os factores subjacentes, que são inevitáveis e inesperados por vezes.
Por outro lado, há que ter em conta que só se consegue um determinado objectivo, quem tenta, quem arrisca. Só não chega quem não tenta. Quem tem escolha e arrisca, pode conseguir esse objectivo. Quem não tenta, nem vai à luta, muito dificilmente o terá (como diz o povo: “Quem não arrisca, não petisca”).

É bom termos poder de escolha, poder optar, seleccionar, preferir. E, sempre que tomemos uma decisão, ainda que seja má, devemos assumi-la sempre.


Mariana Ventura Norte

sexta-feira, 2 de maio de 2008

IDEIAS SOLTAS - Sem palavras


Foi assim que o país ficou quando recebeu a notícia de que, na Áustria, um pai teria violado a própria filha e tê-la-ia mantido em cativeiro, na cave de sua casa, durante 24 anos. A revolta atingiu o seu máximo quando se soube que dessas violações, teriam nascido 7 crianças.

É incompreensível como tudo isto poderá ter acontecido. Não se fala de duas semanas em cativeiro, fala-se de 24 anos. 24 anos sem contacto com o exterior ou com a realidade. 24 anos sem liberdade e sem que houvesse desconfianças por parte dos vizinhos ou da própria mãe. Ainda que ache estranho os vizinhos nunca se terem apercebido de nada fora do normal, não posso deixar passar ao lado a atitude ingénua e passiva da mãe que se contentou com a desculpa dada pelo pai, de que a filha teria abandonado a casa em prol de uma seita religiosa, tento até criado três netos acreditando na história do marido de que a filha os havia deixado à porta de casa. Não estará também envolvida neste horror? Até que ponto uma mãe acredita em tudo o que lhe dizem sem questionar? E como consegue ela, durante 24 anos, nunca ter ido à cave? Nunca precisou de ir buscar nada que lá tivesse?

Quanto ao pai não há muito a dizer. Não gostava da filha (se não nunca teria feito o que fez), violou não só a filha como toda a sua liberdade e, sofre de grandes distúrbios mentais. Como pode um pai fazer uma coisa destas? Violar uma pessoa, por si só já é arrepiante, mas violar sucessivamente um membro da família (neste caso a filha), deita qualquer ser humano, com um pingo de valores, abaixo. Não é pai, nem é nada…

O facto de se ter mostrado a cave e de se ter visto paredes anti-ruído e a porta blindada, leva a crer que, tudo isto foi planeado. Planeado ao último pormenor, para que nunca se descobrisse nada. Para que não se ouvisse, não se desconfiasse, não se tentasse entrar e ver, com os próprios olhos, uma realidade tão cruel e desumana como esta.

Os dias passam e eu continuo assim, quase sem palavras, incrédula, estupefacta.

Mariana Ventura Norte