Pouco passava das quatro e meia da tarde. Estava eu a sair do hospital que, por norma, é um local bastante movimentado, quando uma senhora começou a chamar por mim. Ao princípio não olhei para ela, procurei abstrair-me (não fosse apenas pedir-me dinheiro para alimentar os seus vícios), mas como insistia em chamar por mim, decidi ir ter com ela.
Quando a vi percebi que se estava a sentir mal. Agarrou-me nos pulsos com muita força e pediu-me para não a deixar. Estava só, fraca e com muito medo. Por um lado, estava ela a pedir-me ajuda, por outro queria eu ajuda-la mas não sabia como. Apenas sabia que a queria ajudar, pelo que jamais a deixaria ali sozinha.
Procurei informar-me sobre o seu nome, o que estava ali a fazer, perguntas para a manterem acordada e para verificar se estava consciente até que… começa a cair por cima de mim. Como não sou ligada à área da saúde, o meu cérebro de senso comum entendeu que seria um princípio de desmaio e senti que eu sozinha não poderia ajudar mais. Gritei bem alto e num tom de desespero contrabalançado com esperança: “Alguém me ajuda?”. Muitos foram os que ficaram a olhar e apenas um senhor resolveu certificar-se de que eu precisava mesmo de ajuda e perguntou: “ Precisa de ajuda?”. Só tive tempo de dizer que sim e a dada altura a senhora já estava a cair por cima do único homem que teve um pingo de educação e sensibilidade para nos ajudar.
Algum tempo depois, vieram enfermeiros e levaram-na para o interior do hospital. Vim o caminho todo para casa a pensar porque razão ninguém a quis ajudar. Qual seria o motivo pelo qual ninguém se aproximou? Por que preferiram ficar todos a olhar em vez de partir para a acção? Será que a palavra “ajuda” não consta nos seus dicionários? É que ainda para mais, estávamos todos num hospital, onde se encontram pessoas que precisam dos mais variadíssimos tipos de ajuda e outras que estão prontas a ajudar. E não falo só de médicos e enfermeiros, eu também quis ajudar. Fiz o que os outros não quiseram fazer.
Só queria entender o motivo, a razão… E espero que eles não se esqueçam que a palavra “ajuda” tem duas faces: ontem foi a senhora a precisar dela, amanhã pode ser qualquer um deles e, assim sendo, também espero que eles não encontrem pessoas antipáticas ou que não queiram ajudar. Em suma: que “o feitiço não se vire contra o feiticeiro”.
Quando a vi percebi que se estava a sentir mal. Agarrou-me nos pulsos com muita força e pediu-me para não a deixar. Estava só, fraca e com muito medo. Por um lado, estava ela a pedir-me ajuda, por outro queria eu ajuda-la mas não sabia como. Apenas sabia que a queria ajudar, pelo que jamais a deixaria ali sozinha.
Procurei informar-me sobre o seu nome, o que estava ali a fazer, perguntas para a manterem acordada e para verificar se estava consciente até que… começa a cair por cima de mim. Como não sou ligada à área da saúde, o meu cérebro de senso comum entendeu que seria um princípio de desmaio e senti que eu sozinha não poderia ajudar mais. Gritei bem alto e num tom de desespero contrabalançado com esperança: “Alguém me ajuda?”. Muitos foram os que ficaram a olhar e apenas um senhor resolveu certificar-se de que eu precisava mesmo de ajuda e perguntou: “ Precisa de ajuda?”. Só tive tempo de dizer que sim e a dada altura a senhora já estava a cair por cima do único homem que teve um pingo de educação e sensibilidade para nos ajudar.
Algum tempo depois, vieram enfermeiros e levaram-na para o interior do hospital. Vim o caminho todo para casa a pensar porque razão ninguém a quis ajudar. Qual seria o motivo pelo qual ninguém se aproximou? Por que preferiram ficar todos a olhar em vez de partir para a acção? Será que a palavra “ajuda” não consta nos seus dicionários? É que ainda para mais, estávamos todos num hospital, onde se encontram pessoas que precisam dos mais variadíssimos tipos de ajuda e outras que estão prontas a ajudar. E não falo só de médicos e enfermeiros, eu também quis ajudar. Fiz o que os outros não quiseram fazer.
Só queria entender o motivo, a razão… E espero que eles não se esqueçam que a palavra “ajuda” tem duas faces: ontem foi a senhora a precisar dela, amanhã pode ser qualquer um deles e, assim sendo, também espero que eles não encontrem pessoas antipáticas ou que não queiram ajudar. Em suma: que “o feitiço não se vire contra o feiticeiro”.
Mariana Ventura Norte
12 comentários:
Realmente, o ser humano é muito complexo... Acho que grande parte dessa complexidade se chama egoísmo... As pessoas preferem pensar no seu próprio umbigo do que nos outros...
Provavelmente, as pessoas que te rodeavam, à excepção desse senhor que vos ajudou, preferiram continuar cómodas no seu sitiozinho, do que fazerem alguma coisa para ajudar, nem que fosse chamar alguém apenas...
Enfim, isto entristece qualquer um com um pingo de humanidade...
Por outro lado, é bom saber que ainda existem pessoas como tu que, mesmo aflitas e sem saber o que fazer, não hesitam em ajudar os que necessitam...
Parabéns, não apenas pelo texto (que está, para não variar, muito bom), mas também por seres como és!! :)
adoro.te <3
Gostei muito do teu texto e da forma como descreves e dás a conhecer a experiência que viveste.
Tu ajudaste a senhora enquanto outros permaneceram indiferentes perante o sucedido. Parabéns pela tua atitude!
Beijinhos.
Quando vivia em Inglaterra e trabalhava como "deputy manager" de uma loja de roupa, apanhei um idiota em flagrante, a roubar-me uma braçada de casacos e a sair disparado. Instintivamente, com este corpinho de meter respeito a qualquer ladrãozeco, desatei a correr atrás dele pelas ruas da "baixa" fora, enquanto pedia ajuda aos gritos.
Não só ninguém me ajudou a parar o desgraçado (ainda hoje me lembro da cara dele) como ainda tive de ouvir vários ralhetes pelo disparate que estava a fazer.
Que devia ter ficado quietinha, no meu canto, diziam...
A partir desse dia, a minha "fé" no ser humano (porque continuo a acreditar numa bondade que não posso provar) desvaneceu-se.
Não compreendo.
Nunca hei-de compreender!
Beijo!
Pode haver muitas razões que expliquem a inacção dos que te olhavam.
Indiferença, medo, desconfiança, vazio, má-educação, etc..
Pensa antes que fizeste o que devias fazer. E que o fizeste de coração.
Lembro-me que uma vez, à porta do super-mercado onde ia ao fim do dia, estava uma mulher magra a pedir algo para comer. Também pensei o mesmo que tu: "Quer dinheiro para vícios". Visivelmente, percebia-se que era toxicodependente. Mas os seus olhos não me deixaram seguir indiferente.
Falei com ela e perguntei-lhe o nome. Helena.
Nesse dia, comprei-lhe algo para comer. No dia a seguir, ela estava lá, à frente de uma das janelas do super-mercado, onde cartazes com letras garridas contrastavam com aquela figura cinzenta. Cumprimentou-me e pediu-me algo quente para comer. Falámos um pouco, perguntei do que gostava e, depois de pagar as compras, trouxe-lhe da refeição quente que estavam a vender.
Nos dias seguintes, sempre que a encontrava, falava um pouco com ela, apesar de mais ninguém o fazer. Contou-me que idade tinha, porque estava ali e como tinha ficado seropositiva. Falava da indiferença dos outros. Mas mesmo assim, tinha um sorriso e um olhar muito bonitos.
Um dia, à mesma hora, já não me pediu nada. Já não falámos.
Vim a saber que ela tinha partido.
Beijinhos para ti.
Mariana:
Infelizmente os tempos que correm são difíceis em muitos aspectos. Esse é mais um. As pessoas sentem-se inseguras por tudo aquilo que ouvem e lêem na comunicação social, e essa insegurança tornam-nas desconfiadas por tudo o que se passa à sua volta. É por isso que demoram a reagir (quando reagem). Têm tendência para fugir daquilo que sai da norma. Numa palavra, têm medo. É mais um sinal negativo dos tempos.
Rubi
Todos nós temos episódios destes para relatar mas existe algo que determina esses episódios: a acção. Quantos de nós agimos perante uma situação destas? Conto apenas um curto episódio. Estava eu num daqueles fins-de-semana românticos :) e quando jantava alegremente com a pessoa que estava comigo, ao nosso lado estava um senhor idoso a jantar sozinho e a olhar constantemente para o telemóvel. De repente, o telemóvel toca e os olhos do senhor encheram-se de alegria. Atendeu, perguntou quem era e desligou o telemóvel dizendo "era engano". Aquela expressão cortou-nos como uma espada! O senhor foi-se embora e nós, dois pombinhos ficamos destroçados. A solidão doi e corta mais do que o aço de uma navalha! Lembrei-me de um poema que retrata muito estes e muitos outros episódios da nossa vida.
"Saudade é solidao acompanhada,
É quando o amor ainda nao
foi embora, mas o amado já...
Saudade é amar um passado que ainda nao passou,
É recusar um presente que nos machuca, é nao ver o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe o que nao existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam,
É a dor dos que ficaram para trás,
É o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
nao ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e nao viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.
(Pablo Neruda)
Um beijo para a prima "tanta neve" :)
Realmente é triste quando nós necessitamos de ajuda, ninguém ter a coragem de ajudar!
Esta sociedade tem partes muito negras, esta é uma delas. Já não há a entre-ajuda entre as pessoas é muito triste!
É mais fácil virar as costas... E se essa senhora morresse, as pessoas que estavam a olhar ficariam com remorssos? Certamente não, pois nunca mais iriam ouvir falar daquela pessoa que estara a sofrer uns tempos atrás!
É triste...
Beijinhos Helder!
Gostei muito do texto.
Tomaste a atitude certa ao ajudar a senhora.
Continua a escrever assim.
beijinhos
Bonito texto Mariana=)
Foi muito bonito o que fizeste pela senhora,de certeza que ela nunca se irá esquecer de ti!
Ás vezes não basta ter coragem como tu tiveste para o fazer,mas sim bom senso e como tu dizes saber o significado da palavra ajuda,nunca se sabe quando seremos nós a precisar!!
parabéns=D
beijinhooo
(agora nao m esqueci :P)
tb tive uma esperiencia parecida com a tua:
antes das ferias da pascoa estava no metro com umas colegas quado ouvimos um estrondo e alguem a berrar. tinha sido uma senhora q tiha caido nas escadas da estaçao (chovia torrencialmente nesse dia...) e aberto a cabeça. tinha uma poça de sangue a volta da cabeça. mas a atitude das pessoas q la estavam foi totalmente diferente da q estavam no "teu" hospital: todos os q presenciaram mostraram s preocupadissimos e foram varios a chamar o 112- ao ponto de dizerem do outro lado q ja estavam fartos de receber chamadas por cauda da mesma situaçao...- e ng arredou pe dali ate chegar a ambulancia. so quem s impressiona com o sangue é q s afastou um pouco...
talvez a tu e a "tua" vitima tenham tido azar com quem vos rodeava... ou eu e a "minha" vitima tehamos tido sorte. infelizmente, ate por experiencias de outras pessoas, acho q é a 2ª hipotese a correcta...
parabens pelo texto, sempre optimos ;)
beijinhos*
É... desta vez abordaste uma das vertentes mais fracas do ser humano...o egoísmo... E nem há explicação possível, é quase como um facto consumado:as pessoas são egoístas por natureza...Muitas vezes ne se apercebem do tamanho da sua solidão, do seu "desrespeito" para com o próximo; e digo solidão porque julgo que o egoísmo é consequencia de uma vida solitária que nos torna amargos e esquecidos das relações humanas...
Porém, ainda existem pessoas como tu, dotadas de bom senso, educação e solidariedade e que têm gestos louváveis como o teu...
Parabéns Mariana...pelo gesto, pela crónica...e por ti ;)
Ei, não posso deixar de dizer que adorei o poema de Pablo Neruda que o Pedro nos deu a conhecer...
É.... perfeito... :)
beijinhos
<3
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